por Francisco Petros e José Marcio Mendonça
De Dilma para Dilma. Com ardor I
Para os eleitores
brasileiros e até para os candidatos às urnas de outubro, as eleições deste ano
são municipais. Não é assim, porém, para oestablishment político-partidário,
no situacionismo ou no oposicionismo Federal. Para os caciques e seus agregados
é apenas um rito de passagem necessário e importante para 2014. Lula já havia
botado suas fichas na mesa desavisadamente, como não querendo, mas querendo,
quando no programa do Ratinho anunciou que poderá se candidatar a um novo
mandato se Dilma não quiser ou não puder. Por que Dilma não quereria ou não
poderia ? - perguntou-se aos quatro quadrantes, inclusive naquele Palácio
situado num dos triângulos da Praça dos Três Poderes.
De Dilma para
Dilma. Com ardor II
A resposta veio
logo, firme e sem meias palavras : ela pode, quer e vai brigar. De forma
inusitada para quem era - e não escondia - avessa ao joguinho miúdo do mundo
dos políticos. Dilma deixou de lado a cautela de quem não pretendia botar muito
a cara nas sucessões municipais, para não se incompatibilizar com nenhum
aliado, tantas as divisões deles nos municípios, e saiu para botar ordem na
casa, diretamente em duas disputas cruciais - SP e BH. Ilude-se quem pensa,
porém, que ela agiu para dar uma mãozona ao PT e até ao grande companheiro
Lula, cujas operações políticas nessas duas capitais, especialmente em SP, com
a ameaça de um isolamento de Fernando Haddad, estavam azedas. Cirurgicamente
Dilma deu a Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades para um
correligionário de Paulo Maluf e jogou o PP nos braços de Haddad. Lula foi
apenas aos jardins malufistas para posar para a foto. Em BH botou o PMDB e o
PSB na chapa do petista Patrus Ananias, depois do rompimento da aliança PSB/PT,
por obra de ajustes entre o senador Aécio Neves e o governador Eduardo Campos.
De Dilma para
Dilma. Com ardor III
Dilma foi
exatamente tentar implodir as pedras em seu caminho de 2014 e deu seu recado de
que está viva. É coincidência apenas que tenha sido na mesma direção dos
interesses do PT. Em seguida, a presidente começou a assentar seu próprio
caminho, em seguidas reuniões no Palácio da Alvorada, fora do horário de
expediente para não parecer que faz política eleitoral quando deveria estar
trabalhando. Acertou-se com o PMDB, de Michel Temer, que andava desconfiado das
intenções da presidente para o futuro com ele; com o PSB de Eduardo Campos, a
quem havia contrariado nas manobras mineiras; e com a bancada do PT, pelo menos
parte dela.
Recato
presidencial ?
Agora, se não
houver mais ruídos, ela se recolherá a certo recato eleitoral, como chegou a
ser anunciado oficialmente pela ministra Ideli Salvatti. Qualquer resultado
eleitoral que não seja o fortalecimento da oposição é bom para ela. Outros
movimentos políticos agora apenas depois do segundo turno e até fevereiro, após
as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, quando então deverá
haver ajustes nos ministérios. Ficaram restos a pagar - Gilberto Kassab, PMDB
mineiro - e contas a cobrar. Tudo isso não quer dizer que Dilma está com menos
apreço, menos gratidão e menos respeito por Lula. Tudo permanece intocado. Mas
o momento político dela, a não ser o desejo de botar a oposição definitivamente
de joelho, não é exatamente o mesmo momento político do antecessor e benfeitor.
Nem todos, porém,
confiam
Apesar dos
movimentos da presidente, alguns aliados ainda não dão como certo que a
sucessão de 2014 transcorrerá entre Dilma e um oposicionista, possivelmente
Aécio Neves.
1.
Os mais lulistas do PT não acreditam que o ex-presidente está fora do
tabuleiro, até porque se sentem alijados da linha de frente do governismo, com
o nascimento de uma espécie de PT da D (PT Dilma) em oposição ao PT do L (PT do
Lula).
2.
Michel Temer, com todos os cuidados, deixou claro em entrevista a Eliane
Catanhêde, na "Folha de S.Paulo", que o PMDB não descarta concorrer
com candidato próprio. Se o partido se destacar em outubro, a crista
peemedebista vai crescer.
3. Eduardo Campos e
seu PSB também dependem das urnas municipais para uma avaliação melhor de suas
reais possibilidades.
E todos estão de
olho numa só questão - o desempenho da economia. Uma fonte de legitimação de
qualquer governo hoje pelo mundo, além dos votos nas democracias, é o grau de
satisfação dos eleitores com sua situação econômica e a qualidade de vida que
tem. Nenhum governista acredita que Dilma vai poder ser candidata à reeleição
se não garantir o leite das criancinhas.
Novos
articuladores
Depois que a imagem de Lula como um articulador
político infalível ficou comprometida por alguns tropeços cometidos por ele nos
últimos tempos, dois outros nomes passaram a ser incensados em certas rodas
movidas a cabrestos como novos gênios dessa raça - Gilberto Kassab, do PSD, e
Michel Temer, do PMDB. Do lugar onde se encontram observando o cenário político
brasileiro atual, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros da mesma estirpe
devem estar, como diria Eça de Queiroz, tendo "frouxos de riso".
A chave do
crescimento mundial
Na semana passada,
a China anunciou o menor crescimento do PIB desde o início da crise financeira
internacional, em setembro de 2008. As reações mundiais não foram propriamente
de surpresa, mas de expectativa de como o governo comunista de Pequim iria reagir
diante deste fato. Nesta segunda-feira, veio a primeira resposta do premiê
chinês Wen Jiabao que anunciou medidas de estímulo ao investimento externo, bem
como redução da taxa de juros e reservas bancárias. Uma receita tradicional que
deve ser seguida, com menores efeitos, pelo Fed e pelo Banco Central Europeu
(apesar deste enfrentar enormes divergências internas). O risco da política
chinesa é a continuidade de substanciais desequilíbrios internos. Setores como
o de construção civil persistem relativamente aquecidos e inflacionados,
enquanto o setor industrial sofrem os efeitos da crise internacional.
Especula-se no mercado internacional o quanto a China poderia gastar numa nova
política de estímulo fiscal. Em novembro de 2008, os gastos foram da ordem de
US$ 500 bi. A maioria dos analistas acredita em um número superior neste
momento.
Mudança de rumo
Desde o início do primeiro trimestre deste ano, os
fundos hedge, os quais especulam em diversos segmentos do mercado
internacional, estavam apostando firme na queda dos preços das commodities em
função da queda contínua da atividade industrial chinesa nos últimos
trimestres. (A China consome 11% do petróleo produzido no mundo e 40% do cobre,
apenas para citar dois exemplos). Pois bem : desde as primeiras notícias sobre
o possível pacote de estímulo à economia chinesa, estes fundos reverteram suas
posições baixistas e passaram a apostar na alta das commodities.
Cabe observar cuidadosamente este movimento de vez que este deve ter influência
decisiva sobre a economia brasileira e a bolsa local. Ainda é cedo para
qualquer prognóstico, sobretudo porque o sucesso da política chinesa dependerá
do aumento do consumo doméstico às custas da obtenção da poupança externa via
saldo comercial, um dogma econômico até agora do governo chinês.
Relembrando Keynes
e Hoover
Dizia Keynes que
"o capitalismo é muito importante para ser cuidado pelos
capitalistas". O mundo de hoje é mais estranho : os comunistas estão
cuidando do capitalismo. J. Edgar Hoover ficaria boquiaberto.
Brasil, na
expectativa
Dificilmente os
efeitos das medidas adotadas pelo governo para retomar um nível mais elevado da
atividade econômica surtirão efeitos substanciais. O endividamento das
famílias, a insegurança com o emprego e a contenção do investimento privado e
público adormeceram as melhores expectativas de crescimento. Isso tudo num
ambiente internacional altamente negativo. De toda a forma, o fato novo, para o
bem e para o mal, é a fragilidade da economia chinesa. Dependendo da reação de
Pequim, o Brasil pode ter melhores dias.
Falta de líderes
Convenhamos que a
crise internacional é terrível. Ceifa esperanças de gerações, de famílias e
cria uma instabilidade política que contrai ainda mais o cenário econômico.
Todavia, quando vemos os líderes do G-7 ficamos ainda mais alarmados. Não
passam de governantes de suas paróquias, preocupados com efeitos imediatos e
eleitorais e sem uma visão abrangente. Não saem às ruas para lutar por ideias
que valem a pena. Apenas para coletar votos por meio de discursos preparados
por marqueteiros. Este é talvez o maior problema da crise atual.
Peugeot e Hollande
Será muito curioso sabermos como o presidente
francês François Hollande exercerá a sua "intolerância" aos planos do
Grupo PSA Peugeot Citröen de fechar uma fábrica o que resultará no corte de
aproximadamente 14 mil empregos. O assunto ganhou vastos contornos políticos e
entrou no debate nacional, sobretudo depois da ameaça presidencial. Afinal,
qual o poder que o presidente tem para evitar esta tragédia ? Sobretudo, quando
a empresa francesa acaba de ter sua qualidade de crédito rebaixada e o risco de
inadimplência aumentou...
Delírios sobre a
classe média
Do economista
Marcio Pochmann, ex-presidente do IPEA e candidato à prefeitura de Campinas
pelo PT :
"A grande maioria dos empregos criados foi
de no máximo um salário mínimo e meio, e no setor de serviços. No conceito de
classe média, as pessoas estão em carreiras em que o aumento da escolaridade
aumenta também a renda. São funcionários públicos, professores, bancários. Não
é o que acontece no Brasil agora. Se a pessoa é motorista de ônibus, não
adianta fazer um pós-doutorado que não terá um salário maior."
Do sociólogo
Amaury de Souza :
"A discussão relevante é sobre a
permanência dessas pessoas que ascenderam à classe média. Temos que analisar
qual o risco de elas voltarem a ser pobres. Isso vale para o Brasil e para o
mundo, porque o crescimento da classe média é mundial e é um efeito da
globalização."
O desafio do mundo
político é entender como esta dita "nova classe média" ou
"classe média do Lula" se comportará eleitoralmente. Renovadora ?
Emulará o comportamento da velha classe média ?
Os suspeitos
Depois de 57 dias
de greve os professores das escolas de ensino superior Federal receberam uma
proposta de reajuste salarial e não gostaram do que ouviram. Ficam pelo menos
mais uma semana parados. A operação padrão dos auditores fiscais da Receita
Federal está atrasando a liberação de mercadorias importadas em portos e
aeroportos e na Zona Franca de Manaus há indústrias com produção reduzida ou
parada por falta de insumos e componentes. Segunda-feira, mais um grupo de
servidores Federais das agências reguladoras entrou em greve juntando-se,
segundo cálculos dos dirigentes sindicais, a outros 300 mil, em diversos
órgãos, que já estão com os braços cruzados. Os sindicalistas públicos prometem
ainda transformar a esplanada dos ministérios esta semana em que um grande
acampamento de funcionários insatisfeitos. A esta altura, a presidente Dilma já
deveria estar se perguntando - se ainda não está - como assim tão de repente o
"instinto animal", tão adormecido na era Lula, foi despertado. E não
deve procurar os velhos bodes expiatórios, os suspeitos de sempre - a oposição
e a crise internacional. Eles estão mesmo é dentro de casa.
Mensalão :
salve-se quem puder ?
A proximidade do
julgamento do mensalão parece que está também despertando o "instinto
animal" da sobrevivência entre os acusados. A leitura dos memoriais
apresentados pelos advogados de alguns dos suspeitos mostra claramente que
muitos estão tentando se livrar jogando a culpa em outros. Delúbio Soares é um
dos apontados e, de fidelidade canina, parece disposto a não reagir, assumindo
uma culpa maior do que lhe cabe naquele latifúndio de "recursos não
contabilizados". O publicitário Marcos Valério, no entanto, não parece
propenso a se imolar nesse altar de sacrifício. Em outra ocasião, precisou ser
devidamente acalmado. O documento de defesa de seu advogado é sinal de que ele
necessita novamente de cuidados.
Recordar é viver
O mensalão só deu no que deu e ainda pode dar mais
depois de uma entrevista do então deputado e presidente do PTB Roberto
Jefferson à jornalista Renata Lo Prete no jornal "Folha de S.Paulo".
Jefferson, cujo partido também se beneficiou das "mensalidades",
soltou sua voz de tenor amador quando começou a desconfiar que estavam querendo
jogar sobre ele e o PTB toda a culpa das falcatruas nos Correios na ocasião,
motivo da CPI em andamento no Congresso. Ele viu armações do ministro chefe da
Casa Civil, a época, José Dirceu, em notinhas de jornal e foi o que se viu.
Qualquer semelhança com o incômodo manifestado por Marcos Valério pode vir a não
ser mera coincidência.
Radar NA REAL
13/7/12
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TENDÊNCIA
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Cotação
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- Pós-Fixados
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NA
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baixa
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Câmbio ²
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- EURO
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1,2274
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baixa
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baixa
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- REAL
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2,0411
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baixa
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estável/baixa
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Mercado Acionário
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- Ibovespa
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54.330,51
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estável
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estável/alta
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- S&P 500
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1.349,54
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estável
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alta
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- NASDAQ
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2.908,47
|
estável
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alta
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(1) Títulos
públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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