Opinão pública julgará STF sobre
mensalão, diz Calmon
A ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da
Justiça, afirmou ontem que o Supremo Tribunal Federal (STF) será julgado pela
opinião pública ao analisar o processo do mensalão a partir do dia 2 de agosto.
“Há por parte da Nação uma expectativa muito grande e acho também que o Supremo
está tendo o seu grande julgamento ao julgar o mensalão”, disse ela pouco antes
de fazer uma palestra no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
A Procuradoria-Geral
da República acusa 38 pessoas, entre elas José Dirceu, primeiro ministro da
Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva, de formar uma quadrilha para
comprar o apoio de parlamentares no Congresso com dinheiro público.
Calmon disse que “não
conhece o processo do mensalão, senão por jornais”. “Como ele (Supremo) se
porta diante dos autos, a realidade que está retratada nos autos vai ser
mostrada quando do julgamento e é neste momento que o Supremo passa a ser
julgado pela opinião pública, não é?”, disse a corregedora.
“Não é que o Supremo
vá se pautar pela opinião pública, mas todo e qualquer poder, no regime
democrático, também se nutre da confiabilidade daqueles a quem ele serve”,
completou ela.
Indagada se a pressão
pública pode influenciar o resultado, Eliana afirmou: “O Supremo não se deixa
muito influenciar pela opinião popular, ele sempre se manteve meio afastado.
Mas começamos a verificar que já não é com aquela frieza do passado.”
“Hoje, eles (os
ministros) têm sim uma preocupação porque o País mudou e a população está
participando”, afirmou a corregedora da Justiça. “A imprensa influencia, mas a
opinião pública também está sendo formada pelas redes sociais. É uma
participação mais efetiva. Não é ninguém que está fazendo a cabeça da
população, ela se comunica entre si, isso tem causado a sensibilidade do
Supremo”, completou.
“Acho que (o
julgamento) seria um bom momento (como resposta de um Judiciário forte) do que
representa o STF dentro de uma expectativa da sociedade como um todo”, afirmou
a corregedora.
Em junho, José Dirceu
chegou a conclamar estudantes ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE) a
ir às ruas para ajudá-lo. “Todos sabem que este julgamento é uma batalha
política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque senão a gente
só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do
monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês”, afirmou em discurso.
No início de julho, o
novo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas,
afirmou que mobilizaria a entidade caso houvesse um julgamento “político”. “Se
isso ocorrer, nós questionaremos, iremos para as ruas”, disse o sindicalista.
Reações
O advogado do
empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado pela
Procuradoria-Geral da República como o operador do mensalão, reagiu às
declarações da corregedora. “Nas minhas alegações finais eu faço um comentário
sobre a publicidade opressiva que cerca este processo e faço um pedido ao STF:
que julgue de acordo com a prova dos autos, agrade ou não a opinião pública”,
disse Marcelo Leonardo. “Eu prefiro ficar com a frase de um ex-ministro do STF,
quando o tribunal julgou e absolveu Fernando Collor. Ele disse que o Supremo
não era um órgão de opinião pública”, afirmou o advogado.
Já José Luís Oliveira
Lima, que defende José Dirceu, minimizou as declarações. “Não entendo a frase
da ministra como uma politização do julgamento, ela falou o óbvio”, disse. “Os
ministros são os mais experientes magistrados do País e saberão lidar com
tranquilidade diante de qualquer tipo de manifestação.” As informações são do
jornal O Estado de S.Paulo.
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