O Universo, Deus e você
Como entender a maior descoberta da
ciência em décadas – e seu sentido para a compreensão do cosmo, a crença
religiosa e a vida
A maior descoberta científica dos últimos 40 anos é
na verdade minúscula. É menor que um átomo de hidrogênio – e extremamente
fugaz. Depois de quase meio século de buscas, apareceu e sumiu num instante tão
curto que desafia a noção do tempo. Dentro da maior câmera fotográfica do
mundo, o LHC, acelerador de partículas da Organização Europeia para a Pesquisa
Nuclear (Cern), na fronteira entre Suíça e França, alguns dos maiores físicos
contemporâneos só conseguiram extrair um traço probabilístico da existência
dessa partícula misteriosa. Batizada pelos cientistas de bóson de Higgs, ela guarda o segredo para a existência da
matéria. Conhecida como “partícula de Deus”, pode ser a chave para entender de
onde viemos e para onde vamos. É o mais importante passo da humanidade para
desvendar a maravilhosa mecânica do cosmo e como ele foi criado.
Nosso conhecimento sobre essa partícula é resultado
de uma empreitada histórica. Dentro do LHC, 9 mil ímãs supercondutores gigantes
operam 24 horas por dia, sete dias na semana, consumindo a energia usada por
uma cidade de 100 mil habitantes. Os supercondutores aceleram dois feixes de
energia formados por prótons, as partículas dos núcleos dos átomos. Tais feixes
são acelerados em sentidos opostos até atingir 99,9999991% da velocidade da
luz. A tal velocidade, os prótons completam 11 mil voltas por segundo no
acelerador. É quando eles colidem de frente. Esmigalham-se, liberam quantidades
prodigiosas de energia e acumulam uma montanha microscópica de escombros. São
32 milhões de colisões por segundo. A maioria dos detritos é formada por
partículas conhecidas dos cientistas. De vez em quando, pipocam partículas
nunca antes detectadas. É o caso do bóson de Higgs. A probabilidade para gerar
um Higgs é uma a cada 100 bilhões de colisões. Com trilhões de trilhões de
prótons circulando no acelerador, basta meia hora para, em tese, surgir um
Higgs. Desde que o LHC foi inaugurado, em 2010, as equipes dos experimentos
Atlas e CMS, que buscam evidências do bóson, analisaram 800 trilhões de
colisões. Perdidos no meio dessa barafunda, os cientistas pinçaram apenas e tão
somente dois eventos, dois vislumbres do fugidio bóson.
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