Especialistas relatam a trajetória para a conquista da
independência na BA
Independência no estado foi
concretizada na manhã de 2 de julho de 1823.
Historiador diz que caboclos não traduzem luta da independência na Bahia.
A Independência do Brasil
foi declarada por D. Pedro I no dia 7 de setembro de 1822, entretanto, o
exército português continuava resistindo e por este motivo dominava o
território baiano, que declarou independência somente em 2 de julho de 1823.
Historiador Ricardo avalia 2 de Julho
Diante
deste contexto, a luta pela libertação da Bahia do domínio português ganha
força e, como afirma o historiador da Universidade Federal da Bahia Ricardo
Carvalho, o processo de luta na Bahia representa o rompimento com a presença
militar portuguesa. “O fator determinante para o início da luta está ligado ao
fato de que as tropas portuguesas instaladas na Bahia não aceitaram a tutela de
D. Pedro I após a declaração unilateral de independência [realizada no dia 7 de
setembro de 1822]”, afirma.
Ricardo Carvalho também cita a situação econômica da época e o
passado de lutas no estado baiano como propulsores do movimento de
independência.
Conflito
Entre os motivos que já incitavam a população baiana e o exército brasileiro contra o domínio português estava a insatisfação com a nova junta de governo que era administrada pelo brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo e que foi instituída em fevereiro de 1822. A posição do novo governador da Bahia, que se declarava fiel a Portugal, não agradou a população, contribuindo para a disputa do território e luta pela independência.
O novo governador da época, Madeira de Melo, na tentativa de
impor a sua autoridade, resolveu inspecionar as infantarias, que em sua maioria
eram brasileiras, e essa atitude deu início aos primeiros conflitos no dia 19
de fevereiro de 1822 nas proximidades do Forte de São Pedro. Em Salvador,
locais como Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os
principais campos de batalha na luta pela libertação.
Foi exatamente no dia 19 de fevereiro que tropas portuguesas
invadiram o Convento da Lapa alegando que havia combatentes baianos escondidos
no local. Para proteger a tropa, a abadessa Sóror Joana Angélica tentou impedir
a entrada dos portugueses no Convento e acabou ferida no peito por uma baioneta
e morreu no dia seguinte.
A luta pela independência consolidou o nome de Joana Angélica e
outras personalidades que participaram dos conflitos que resultaria na derrota
dos portugueses. Esses personagens ficaram conhecidos como “heróis da independência”.
Para Ricardo Carvalho, a ideia dos “heróis da independência” está ligada a uma
necessidade de personalização da história do que a uma intensa participação ou
possível demanda da luta quando ela aconteceu. “De qualquer forma eles
representam uma expressão dos vários setores que lutaram. O Corneteiro Lopes é
a alma irreverente do baiano. Maria Quitéria, que considero a mais 'útil', a
nossa coragem de transgredir e Joana Angélica responde ao nosso lado místico”,
relata.
Participação do interior
Com a chegada de novas tropas para o exército do governador português, Madeira de Melo, em março de 1822, tropas baianas deixam a capital e fogem para o interior do estado, principalmente no recôncavo baiano, como Cachoeira, São Francisco do Conde e Santo Amaro. “Cachoeira é referência até hoje no recôncavo pela posição geográfica estratégica e pela questão econômica. A atitude insurrecta contra os portugueses deu a Cachoeira a vanguarda na luta na região”, ressalta Ricardo Carvalho.
Neste momento, a população favorece o reconhecimento do príncipe regente
D. Pedro I e os intensos conflitos ocorreram em Cachoeira chegam a outras
cidades do recôncavo e a Salvador.
Tradicionalmente, caboclo é homenageado nosfestejos da independência
No dia 25 de junho de 1823, a população homenageava D. Pedro I na Vila
de Cachoeira quando foi atacada por cerca de 30 marujos que dispararam tiros de
canhão a partir de um barco que estava parado no Rio Paragaçu. Depois de três
dias de confronto, os brasileiros conseguiram tomar o barco e prender os
portugueses, evento que marca o desligamento da Vila do domínio da Corte
Portuguesa. Por isso, todo dia 25 de junho a capital da Bahia é transferida
para a cidade de Cachoeira em reconhecimento histórico pelos feitos da cidade
em prol do país.
A ação dos revoltosos também ganha destaque com a criação de um governo
interino que passou a administrar a partir da Vila de Cachoeira e a resistência
contra o governo de Madeira de Melo passa a ser coordenada por Miguel Calmon du
Pin e Almeida.
Entre os meses de maio e junho de 1822 chega ao Rio de Janeiro o general
francês Pierre Labatut, conhecido com Pedro Labatut, que foi admitido como
Brigadeiro do “Exército Pacificador” em julho do mesmo ano e, meses depois, em
novembro de 1822, e sob a ordem de D. Pedro I confronta os portugueses na
Batalha de Pirajá, realizada na Bahia. A luta vencida pelas tropas brasileiras
contribuiu para a deflagração da Independência na Bahia em 2 de julho de 1823.
Ao falar sobre a formação do Exército brasileiro, o historiador Ricardo
Carvalho destaca que as tropas eram formadas pelo povo que “compulsoriamente ou
voluntariamente” aderiu às brigadas, mas ele ressalta que toda a liderança
sempre foi exercida pelas elites aristocráticas da época.
Após algumas lutas e forte resistência dos defensores da Independência e
apoio do militar britânico Thomas Cochrane, as tropas portuguesas foram
derrotadas na madrugada do dia 2 de julho de 1823 e a data tornou-se marco da
Independência do Brasil na Bahia. Após constatar a vitória, as tropas
brasileiras começaram a comemorar na “Estrada das Boiadas”, que ficava na
entrada da cidade e hoje é conhecida como Rua Lima e Silva, que fica no bairro da
Liberdade. Inclusive, o bairro foi batizado com o nome “Liberdade” para que
fizesse referência ao desejo dos baianos na época e que tinha se concretizado,
a busca pela “Liberdade”.
Ricardo Carvalho comenta que na época houve pouca repercussão da vitória
brasileira no território baiano. “Houve pouco revérbero nacional naquele
momento, meses depois o Império recém-instalado reconheceu o papel dos baianos
e houve inclusive homenagens e honrarias”.
Sobre uma possível mudança na data de comemoração da Independência do
Brasil, que hoje é celebrada em 7 de setembro, para o dia 2 julho, o
historiador apenas comenta. “Gosto da ideia de chamar o 2 de julho de Dia da
Libertação Nacional”.
Historiador Luís Henrique avalia que negros mereciamdestaque nas homenagens pela independência
Símbolos
da Independência
Para o historiador e autor do livro “A Independência do Brasil na Bahia”, publicado em 1982, Luís Henrique Dias Tavares, o processo de Independência do Brasil na Bahia tem um equívoco nas homenagens que são dispensadas ao caboclo e à cabocla durante os festejos. Segundo ele, a imagem dos indígenas acaba ganhando um destaque que não corresponde ao que de fato aconteceu durante as lutas que resultaram na Independência do Brasil na Bahia na madrugada do dia 2 de julho de 1823.
Os personagens que deveriam ocupar o lugar mais alto ou de
destaque no desfile cívico, segundo o historiador, são os lavradores e
ex-escravos que pegaram em armas e consolidaram a independência no estado
baiano. “Ficou bonito fazer o 2 de julho com as imagens dos caboclos e índios
em geral. Era mais fácil e menos conflituoso. Imagina homenagear a população
negra naquela época, mas foram essas pessoas responsáveis pelo avanço do nosso
exército em meio a várias adversidades e muitos acabaram morrendo em
decorrência disso”, afirma.
O historiador reconhece a participação dos indígenas na luta da
independência, mas pontua que uma pequena parte desta população foi para a luta
armada. “O nosso exército entra em Salvador faminto e a grande contribuição dos
índios foi justamente prover alimentos para os soldados”.
Ele ainda comenta que os motivos de confronto entre os índios e
o colonizador português estavam relacionados a questões como demarcação de
território e o reconhecimento de que os índios eram os donos das terras
brasileiras e que não havia uma luta política pela independência no país.
Luís
Henrique ressalta que deve haver uma correção no desfile e para isso é
necessário reconhecer o papel do negro na Independência do Brasil na Bahia. “A
imagem do caboclo não é suficiente para traduzir o instante da luta de 1823”,
comenta.
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